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Foto do escritorCarolina Kuk

Acervos pessoais: o que são e por que preservar

Atualizado: 23 de set.

Entenda como a organização de acervos pessoais é relevante para o próprio indivíduo e também para as comunidades nas quais ele está inserido


Acervos pessoais são coleções criadas e mantidas por um indivíduo ou por uma família, e são compostos por documentos físicos e digitais que registram a trajetória de vida e a história profissional das personalidades em questão. Embora qualquer pessoa possa usufruir das técnicas de organização de acervos, esse tipo de projeto é especialmente indicado para pessoas com destacada relevância social, já que assim, seu legado pode ser preservado e disponibilizado para as gerações futuras.


Um acervo pessoal organizado fortalece a reputação e auxilia no reconhecimento e na valorização da contribuição dessas personalidades para a sociedade, além de fornecer informações e dados de forma rápida para facilitar tarefas da rotina e da carreira do titular. Este tipo de acervo também é relevante para a memória institucional, já que instituições são formadas por pessoas e, desta forma, as histórias de vida dos indivíduos que dela fizeram parte são suas constituidoras.


Neste artigo, você vai descobrir o que é um acervo pessoal e entender sua importância para os seus proprietários, para sua comunidade de atuação - cidade natal, atividade profissional, instituições e empresas da qual fez ou faz parte - e também para a sociedade em geral. Vai saber como organizar os acervos pessoais e o que é possível fazer para extrovertê-lo colocando-o à disposição do público. Se este assunto interessa a você, continue a leitura.


O que são acervos pessoais?


Acervos pessoais são coleções sobre um indivíduo específico, formados por documentos físicos ou digitais que foram produzidos, recebidos e reunidos pela pessoa em questão ao longo de sua vida, por causa das suas atividades e funções sociais. A existência humana na sociedade contemporânea pressupõe a produção e o uso de inúmeros documentos e objetos. Certidão de nascimento, provas escolares, álbuns de fotografia, notas fiscais, contas de banco, diários, passagens aéreas, vídeos e gravações em áudio, utensílios de uso pessoal como carteiras, óculos, canetas e roupas são exemplos que costumam compor os acervos pessoais.


Essas coleções são mantidas pelas próprias pessoas ou por suas famílias e secretários e costumam ser passadas de geração em geração como parte de um legado. Eventualmente, podem ficar sob a guarda de uma organização cuja relação com seu titular original se estabeleceu de maneira significativa. Um exemplo é o acervo pessoal de Fernando Henrique Cardoso que está sob a guarda do Instituto Fernando Henrique Cardoso desde 2004.


Reserva técnica onde está acondicionado o acervo de Fernando Henrique Cardoso

Organização de acervo pessoal: quem deve fazer


Embora qualquer pessoa possa criar seu próprio acervo, a organização de acervos pessoais é especialmente indicada para personalidades com destacada relevância social. Artistas, políticos, esportistas, médicos, fundadores de empresas e articuladores de projetos que transformaram uma determinada comunidade são exemplos de pessoas que podem se beneficiar e apoiar a sociedade com a criação e organização de um acervo pessoal. Esses indivíduos têm uma trajetória de vida única e relevante, que pode ser registrada e preservada para as gerações futuras. Além disso, um acervo pessoal pode ajudar a reconhecer e valorizar a contribuição dessas personalidades para a cultura e a sociedade.


Um exemplo de personalidade importante que organizou seu acervo pessoal foi Gustavo Kuerten, ex-tenista brasileiro, considerado o maior tenista masculino da história do Brasil. O Acervo Guga Kuerten conta com mais de 260 mil documentos - dentre os quais estão medalhas, uniformes, fotografias, entrevistas, campanhas publicitárias em vídeo e em papel, notícias em recortes de jornal e de revista - que contam sobre a vida e a carreira do ex-atleta. No ano de 2000, pela primeira vez uma profissional foi contratada para organizar o acervo reunido por Alice Kuerten, mãe do Guga, que guardava tudo sobre a vida dos filhos. Além de preservar a reputação do Guga e ativar a memória afetiva de seus fãs, o acervo histórico subsidia as diversas áreas do Instituto Guga Kuerten, oferecendo fotografias para assessoria de imprensa, informações e documentos para o jurídico, conteúdo para as redes sociais e insights estratégicos para campanhas publicitárias para que usem bem a história do tenista.


Por que organizar o acervo pessoal


Os acervos pessoais têm valor para os proprietários porque são uma forma de preservar e documentar a sua história pessoal e familiar, fortalecendo sua memória, sua identidade e sua reputação. Quando bem organizados, estes acervos auxiliam na rotina e na carreira do titular, já que são fonte valiosa de informações sobre ele, sobre seus relacionamentos e suas experiências pessoais e profissionais.


Por outro lado, acervos pessoais têm ainda uma grande importância para as instituições, empresas e comunidades da qual aquela pessoa fez parte, já que indiretamente, resguardam também parte da história destas organizações. Sendo assim, acervos pessoais são relevantes para a memória institucional, já que instituições são formadas por pessoas e, para compreender sua história, as histórias de vida dos indivíduos que dela fizeram parte são muito relevantes.


Além disso, muitas grandes empresas começaram como empresas familiares. Nos centros de memória da Votorantim e da Porto Seguro Seguros, por exemplo, documentos pessoais de seus fundadores integram o acervo histórico tanto quanto folhetos de divulgação de seus produtos e serviços.


No Museu Weg de Ciência e Tecnologia, a história dos três fundadores está representada por meio de fotografias e objetos do acervo pessoal de cada um deles. Werner era um eletricista alemão e, para representá-lo, está exposto no museu seu livro de eletricidade em alemão, um alicate voltímetro-amperímetro e sua clarineta, que ele tocava nas horas vagas. Eggon era administrador e, para retratá-lo, a pasta executiva que ele usava para carregar seus pertences e a medalha nacional do mérito científico recebida por ele estão expostas para o público. Geraldo era mecânico e suas ferramentas podem ser vistas na exposição permanente do museu.


Objetos pessoais dos fundadores da WEG no tour 360º do Museu Weg de ciência e tecnologia

As coleções que formam os acervos pessoais podem ainda ter importância para a sociedade em geral, já que servem como documentos históricos que registram a ocorrência de eventos, ilustram um aspecto da cultura local ou comportamentos de um grupo em uma determinada época.


A primeira história do episódio Linha do Tempo do podcast Rádio Novelo Apresenta, conta sobre os cadernos da família Villas. O Alberto, pai da família Villas, por ocasião do nascimento de seu primeiro filho, decidiu começar a escrever cadernos-diários contando das descobertas do bebê, dos dias de febre, do ganho de peso, das mamadas e do sono.

Além disso, Alberto colava no caderno uma série de memorabilias, como por exemplo, fotografias e embalagens de remédios usados pela família, e também notícias gerais do Brasil e do mundo que ele recortava dos jornais da época. Esse registro tornou-se para ele um hábito diário que já dura mais de quarenta e cinco anos. Então, além de registros do cotidiano e um retrato da vida da família, os cadernos servem como um registro de como era o mundo naquele momento e contam sobre as memórias coletivas da sociedade contemporânea.


Neste episódio, Bárbara Rubira, produtora da Rádio Novelo diz que:


"Os registros dos cadernos da família Villas são banais, rotineiros, pro cara que encaderna tudo deve ser uma boa leitura para aquela hora de sentar um pouco e passar um café. Tem um certo valor também para as próximas gerações da família, pra algum curioso como eu que queira folhear algumas edições, ou quem sabe para algum historiador que queira um retrato de uma família comum em um recorte específico de tempo"
Site da Rádio Novelo traz fotografias dos cadernos-diários da família Villas

Sendo assim, podemos destacar algumas razões pelas quais vale a pena organizar um acervo pessoal:

  1. resguardo dos documentos de valor emocional e que servem de gatilho para despertar as memórias afetivas sobre a personalidade em questão, atendendo a família, fãs e admiradores

  2. transmissão do legado pessoal, passando para as gerações futuras informações sobre a vida e o tempo em que a personalidade viveu

  3. disponibilização de fontes de dados e informações para pesquisas em diversas áreas e para assessoria de imprensa, jurídico e comunicação da personalidade em questão

  4. preservação das histórias dos contextos em que aquela personalidade esteve inserida ao longo de sua vida: uma instituição, uma carreira, uma cidade, um país, um movimento cultural, etc.


Além disso, especialmente para aqueles indivíduos cuja carreira tenha relação com a reputação pessoal, a organização do seu acervo pode auxiliar com informações e imagens e orientar diversos tipos de projetos de extroversão, tais como:


  • publicações biográficas

  • filmes documentários e séries

  • podcasts

  • exposições


Em 2021, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo inaugurou a exposição sobre a vida e a carreira da cantora, compositora, apresentadora e escritora Rita Lee, a rainha do rock brasileiro. A mostra, elaborada pela própria cantora e por seu filho João Lee, contava com prêmios, instrumentos, revistas e jornais, fitas originais e figurinos do acervo pessoal de Rita. Um detalhe especial foi que a visita guiada era conduzida por ela mesma através de audioguias acessíveis por QR Codes.


Na fala de João Lee:


“Convido você a dar uma espiada nas lembranças que minha mãe guardou dos seus 50 anos trabalhando com música por este mundo afora, quando subia no palco e dividia com o público suas peripécias, cantando e dançando. Tempos inesquecíveis, maravilhosos e divertidos”

Como organizar um acervo pessoal


Para aqueles que reconhecem a importância de organizar sua coleção pessoal, é recomendável considerar a elaboração de um projeto em fases, que poderiam incluir as seguintes etapas:


  1. definir o escopo de guarda da documentação: sobre o que será este acervo? Será sobre a vida da personalidade, sobre a carreira, sobre a família toda?

  2. recolher a documentação definida no escopo nos mais variados espaços onde ela pode estar: nas casas de familiares, junto de parceiros de trabalho, nas instituições em que a pessoa trabalhou, etc

  3. criar uma metodologia de classificação e catalogação do acervo: quais informações sobre cada documento são importantes de serem registradas e onde estas informações serão inseridas (planilha de excel, fichas físicas, banco de dados)

  4. desenvolver pesquisas sobre a história de vida do indivíduo e de seus contextos para subsidiar a catalogação

  5. preparar um espaço adequado com controle do ambiente para preservação do acervo

  6. catalogar e acondicionar o acervo no espaço preparado e com o material de acondicionamento adequado separando os documentos por suporte

  7. digitalizar os documentos por meio de escaneamento, reprodução fotográfica ou transformação dos documentos analógicos de vídeo e áudio, a fim de preservá-los e facilitar o acesso a eles. É importante fazer backup desses arquivos digitais e guardá-los em locais seguros

  8. disponibilizar o acervo por meio de atendimento a pesquisadores, jornalistas, fãs ou através de projetos de extroversão de acervos como publicações, exposições, posts em redes sociais, bancos de pesquisa online


Uma vez implantada a metodologia de organização do acervo é preciso fazer a manutenção desta ordem, já que os documentos históricos a respeito do indivíduo ou da família continuam sendo produzidos no dia a dia.


Especialista em organização de acervos


É comum que os acervos pessoais tenham uma ordem criada e estabelecida pelo próprio titular ou pelos seus secretários e familiares, que muito provavelmente não são especialistas em organização de acervos e desenvolveram espontaneamente uma metodologia própria para dar ordem à documentação.


Muitas vezes, esses critérios se perdem com o falecimento do indivíduo em questão ou troca de guarda do acervo, e uma nova ordem se sobrepõe à original, criada desta vez pelos herdeiros ou pela instituição de custódia. É interessante conhecer e incorporar a ordem original aos trabalhos profissionais já que ela pode dizer muito sobre o indivíduo ao qual pertencia.


Se você entende que organizar o seu acervo pessoal ou de alguém da sua família ou ainda de um cliente seu é importante, consulte a Raiz Projetos e Pesquisas de História para pensar juntos em um projeto adequado para o seu caso.


Perguntas frequentes:

O que são acervos pessoais?

São coleções sobre um indivíduo específico, formados por documentos físicos ou digitais que foram produzidos, recebidos e reunidos pela pessoa em questão ao longo de sua vida, por causa das suas atividades e funções sociais. Certidão de nascimento, provas escolares, álbuns de fotografia, notas fiscais, contas de banco, diários, passagens aéreas, vídeos e gravações em áudio, utensílios de uso pessoal como carteiras, óculos, canetas e roupas são exemplos de itens que costumam compor os acervos pessoais.

Organização de acervo pessoal: quem deve fazer?

Por que organizar o acervo pessoal?

Como organizar um acervo pessoal?


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